Os seis erros de tradução mais graves da história

Hiroshima na atualidade

Cúpula Genbaku em Hiroshima, estrutura que resistiu ao impacto da bomba atómica

Que o trabalho de tradução está desvalorizado, isso nós já sabemos. Mas, o que aconteceria com uma má interpretação desse tipo em um contexto de guerra? O que ocorre quando uma tradução ruim fica boa e todo mundo acredita que está certa? Esses são os seis erros de tradução mais graves da história.

1. Os chifres de Moisés

Moisés

Durante o gótico tardio, até meados do renascimento, os artistas cristãos desenharam e esculpiram Moisés com dois chifres na cabeça. E tudo isso devido a um erro de que, paradoxalmente, é o considerado o patrão dos tradutores: São Jerônimo.

Sua tradução ao latim das versões em grego e hebreu da Bíblia – a Vulgata – tem sido o texto oficial da igreja católica durante um milênio e meio (entre 382 e 1979), mas continha um erro curioso. A expressão hebraica ‘keren or’, que se refere ao estado resplandecente do rosto de Moisés, foi traduzida errada como “chifres”. Não tinha sentido, mas quem vai duvidar de um texto sagrado?

2. A ameaça de Khruschev

Nikita Khrushchev

Em 1956, com a Guerra Fria em pleno apogeu, o líder soviético Nikita Khrushchev deu um discurso na embaixada polaca de Moscou, durante um banquete no qual estavam presentes vários embaixadores ocidentais. Os assistentes ficaram feitos pedra quando o líder comunista disse: “Vocês gostando ou não, a história está do nosso lado. Vamos enterrar vocês!”.

Em plena carreira armamentista a imprensa ocidental interpretou suas palavras como uma ameaça direta, mas os soviéticos rapidamente se explicaram que tudo foi um mal entendido. A frase de Khrushchev saiu de contexto.

Na verdade, se tratava de uma referência ao “Manifesto Comunista” no qual Marx garante que a burguesia produz seus próprios agentes funerários. A tradução certa do seu discurso – que nem sempre deve ser literal – deveria ter sido mais ou menos como: “vocês gostando ou não, a história está do nosso lado. Viveremos para ver como vão enterrar vocês”. Não que seja a frase mais amigável do mundo, mas se tratava de uma proclamação ideológica, não de uma ameaça.

3. O sonho molhado de Jimmy Carter

Jimmy Carter

Quando o presidente estadunidense Jimmy Carter viajou a Polônia, em 1977, o Departamento de Estado contratou um interprete russo que sabia polonês, mas que nunca havia traduzido profissionalmente esse idioma.

Na aquela época, Polônia seguia sendo dominada pela órbita comunista, e Carter pensou em ganhar o povo com um discurso amigável. Mas o tradutor lhe colocou entusiasmo. Carter começou dizendo, “saí dos Estados Unidos esta manhã”, e o tradutor disse “deixei os Estados Unidos para nunca mais voltar”. Quando o presidente disse “vim para saber a opinião de vocês e entender os desejos do futuro”, o tradutor deu a entender que Carter desejava os polacos sexualmente. Inclusive uma inocente frase sobre o quão feliz estava na Polônia se converteu em “estar feliz em ver as partes íntimas da Polônia”. Foi um desastre.

A delegação contratou rapidamente outro tradutor. Ele sabia bem polonês, mas não inglês, então foi uma tradução ruim de novo, mas não foi engraçado, simplesmente não conseguia traduzir

4. Os Canais de Marte

Planeta Marte

Em 1877 o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli realizou uma das primeiras descrições da superfície de Marte. O diretor do observatório de Brera, em Milão, acreditou ver antigos “mares” e “continentes” na superfície marciana e também “canais”.

Em 1908, o astrônomo norte-americano Percival Lowell revisou o trabalho de Schiaparelli e chegou à conclusão de que os canais haviam sido construídos por seres inteligentes para levar a água, que estava acabando na superfície marciana, das calotas polares até as regiões desérticas. Essa afirmação desencadeou a loucura pelos marcianos, embora tenha vindo, claramente, de um erro de tradução.

Schiaparelli nunca pensou que os canais de Marte fossem construções. Na verdade, ele tinha usado a palavra italiana canali que se refere a uma estrutura totalmente natural como desfiladeiros ou canyons.

5. A palavra que fez explodir a bomba atômica

Bomba Atomica de Hiroshima

Em 26 de julho de 1945 as potências aliadas durante a 2ª Guerra Mundial publicaram a declaração de Potsdam, que trava dos termos da rendição do império japonês e garantia que, se não se rendesse, enfrentaria uma “rápida e total destruição”.

A declaração era um ultimatum completo. O primeiro ministro japonês, Kantaro Suzuki, convocou uma entrevista coletiva e disse o equivalente a “Sem comentários. Ainda estamos pensando nisso.”. O problema é que isso não é o que os aliados entenderam. Suzuki cometeu o erro de usar a palavra mokusatsu que pode significar “sem comentários” e também “vamos ignorar e desprezar”. Apenas 10 dias depois da conferência de imprensa o presidente Truman revelou ao mundo o que significava “rápida e total destruição”. Nunca saberemos se uma tradução certa teria mudado um pouco as coisas.

6. A palavra que custou 71 milhões (e uma vida)

Em 1978, Willie Ramirez foi internado em um hospital na Flórida. O paciente estava em estado grave, mas sua família tinha dificuldades para explicar o que acontecia, porque não sabiam falar inglês. Disseram aos médicos que achavam que Ramirez sofria de uma intoxicação alimentar, mas a equipe – supostamente bilíngue – do hospital traduziu “intoxicado” por ‘intoxicated’, que, em inglês, se usa para tratar de pessoas que se drogaram ou beberam muito.

Mesmo os familiares de Ramirez pensando que ele sofria de uma gastroenterites, na verdade, ele tinha uma hemorragia intracerebral. Mas, os médicos, ao acreditar que o paciente estava sofrendo uma overdose, erraram por completo no tratamento. Devido a esta negligência Ramirez ficou tetraplégico e o hospital teve que pagar uma indenização de 71 milhões de dólares.

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